terça-feira, 29 de abril de 2008

A grande mentira - TEXTO 1

Texto elaborado como analise em relação à veracidade, honestidade e ética com que Michael Moore, no filme de "Fahrenheit - 11 de Setembro" mostra os acontecimentos que antecederam, aconteceu e que se sucederam ao ataque de 11 de setembro as torres gêmeas, enfim uma analise do filme.

A Grande Mentira

É sempre difícil ter uma opinião definitiva sobre a honestidade de um artista quanto a seus pontos de vista, especialmente quando o conteúdo da obra em questão resvala pelo pantanoso terreno da política. Há sempre a possibilidade de que interesses obscuros estejam por trás de qualquer tese por ele defendida. Já dizia o escritor George Orwell que "enxergar o que acontece debaixo de nossos narizes exige um esforço constante".

O máximo que podemos fazer é com base no conhecimento que temos da vida publica e / ou privada do autor, em confrontação com o conteúdo de sua obra, observar se há coerência e lógica em sua argumentação. Isso é claro, levando-se em conta que toda obra artística e / ou jornalística, ou num aspecto mais amplo, toda opinião, de uma forma geral, é balizada com base na forma com a qual enxergamos o mundo, algo que, de uma maneira genérica, podemos chamar de "ideologia". Disso não há como escapar. A suposta busca pela imparcialidade tão amplamente difundida pelos meios de comunicação de massa é na verdade um mito. Um mito a ser perseguido; podemos até argumentar que sim. Mas nesse caso trocaria o termo "busca pela imparcialidade" por algo próximo a "busca pela honestidade". Honestidade na argumentação, com o intuito de defender uma tese com uma convicção baseada em conclusões tiradas do máximo de informação possível. A manipulação, nesse caso, surge geralmente do ato de omitir, deliberadamente ou por falta de informação (o que pode até explicar, mas nunca justificar), determinados fatos com o intuito de levar o leitor / expectador a chegar às conclusões desejadas pelo autor da obra.

Com base nos argumentos expostos acima, sim, Michael Moore é honesto no que diz em seu filme "Fahrenheit 11 de setembro". Em nenhum momento ele se esconde por trás de uma fachada de imparcialidade, muito pelo contrário. O filme foi deliberadamente montado com a clara intenção de desconstruir a imagem publica criada pela Casa Branca para o presidente George W. Bush. E há coerência nisso. Toda a obra de Moore foi construída em cima do combate aos efeitos maléficos do neoliberalismo, desde a Administração Reagan até a Era Bush. Em muitos de seus documentários anteriores ele denunciava a atitude das grandes corporações transnacionais, que fechavam fabricas nos Estados Unidos, desempregando milhares de pais de família, para reabri-las em paises pobres do terceiro mundo com o intuito de aproveitar sua mão de obra, não diria barata, mas semi-escrava. Corporações estas que estão amplamente representadas no Governo americano, especialmente nas administrações republicanas, elas mesmas comandadas por felizes proprietários e /ou executivos dessas mesmas corporações. Para tanto, para desmascarar a imagem publica do presidente e dos políticos conservadores e representantes das corporações que o apóiam de um modo geral, Moore usa de engenhosos artifícios de edição e conduz suas entrevistas de uma maneira pela qual ficam claras suas contradições, sua hipocrisia.

Podemos usar como exemplo o trecho em que ele aborda parlamentares que votaram a favor da declaração de guerra com um formulário para que eles autorizassem a convocação de seus filhos. É um artifício de desmistificação, não de manipulação. Em nenhum momento o expectador se sente manipulado ao assistir seus filmes, porque suas idéias têm base em fatos inquestionáveis da vida reais, amplamente, investigados e expostos em seus filmes, especialmente em Fahrenheit 11 de Setembro. Para defender a tese de que interesses corporativos e financeiros relacionados ao petróleo estão por trás da guerra, por exemplo, ele destrincha toda a conexão que existe entre a família Bush e a família Real Saudita e, por tabela, à família Bin Laden, que é uma das mais ricas daquele país graças às obras governamentais para as quais foram contratados. Já a hipocrisia da política externa americana é facilmente denunciada com a simples exibição das velhas imagens do caloroso aperto de mão entre o secretário de estado Donald Rumsfeld e Saddan Hussein nos anos 80, quando este era aliado dos americanos na guerra contra os ayatolás do Irã. Ou nas cenas em que Osama Bin Laden combate os russos no Afeganistão com armas e treinamento fornecidos pela CIA.

Em uma comparação audaciosa, o líder americano se utilizou assim como o sanguinário ditador Adolf Hitler, da Grande Mentira. De acordo com o que foi encontrado no site Wikipédia, "A noção de Grande Mentira como ferramenta de propaganda ideológica tem mais frequentemente sido usada para se referir a crença de que uma mentira, repetida com freqüência e berrada alto o suficiente, ignorando todas e quaisquer declarações que desmascaram a mentira, irá com o tempo ser acreditada pelas massas". Em uma alusão a técnica da grande mentira o que o presidente George W. Bush fez foi "Mostrar que o inimigo é sempre o mesmo é dever do líder político mostrar que mesmo os mais diversos inimigos pertencem a uma única categoria: individualizar mais de um adversário pode, de fato, provocar nas massas, inseguras e perplexas, discussões e dúvidas sobre a justeza de seu direito, não se deve hesitar em desencadear sobre o adversário um fogo contínuo de mentiras e calúnias, até provocar um estado de histeria coletivo: neste ponto, para obter de novo a paz, o povo estará disposto a sacrificar a vítima escolhida". "A técnica da Grande Mentira refere-se às tentativas por propagandistas de usarem uma repetição enfática freqüente de uma mentira como meio para fazer as pessoas acreditarem nela. Isso é com certeza uma técnica de propaganda que os nazistas usaram repetidas vezes. Não é de forma alguma única aos nazistas ou a sistemas totalitários, visto que podemos observar vários empregos dessa técnica mesmo hoje na política moderna".

Ao contrário do Presidente Bush que se utilizou de diversas mentiras para desculpar suas atitudes, em nenhum momento, porém, a obra de Moore tem a intenção de justificar os atos dos chamados terroristas. O que ele está tentando mostrar é que, num sentido figurado, o governo norte-americano alimentou a serpente que hoje se volta contra ele próprio. Alimentou-a para servir a seus interesses localizados. Interesses estes que podem não ser de forma geral, os mesmos do povo americano, mas sim de uma parcela dele. A parcela rica e abastada. É mais fácil identificar similaridades ideológicas entre Bin Laden e Bush do que com Moore. Não por acaso a chamada "guerra contra o terror" é muitas vezes tratada como um confronto entre fundamentalismos, de um lado cristão, do outro islâmico. Cabe ainda uma breve comparação no que diz respeito a filmes e suas mensagens, o filme "Domingo Sangrento” de Paul Greengrauss, um filme que recria o clima de tensão do conflito que marcou a história da Irlanda. Nele também vemos como ações governamentais podem e devem ser mostradas e / ou denunciadas, sendo elas montagens ou descrições de relatos de situações / fatos verídicos.

O máximo que Moore pode estar fazendo ou fez, nesse sentido, é tentar mostrar que esse tipo de política externa dos EUA está dando aos ditos terroristas a justificativa de que eles precisam para atacar não somente a América, mas o mundo liberal e ocidental de uma forma geral. Pois fica bem mais fácil recrutar mártires entre gente que, no fundo, dadas as suas atuais condições econômicas e sociais, não têm muito a perder na vida.

Nenhum comentário: