A publicidade não é essencialmente ruim, não é verdade quando Millôr Fernandes afirma que a mesma não tem nenhum compromisso com a verdade e que seu objetivo “filosófico é a mentira”. Pode-se observar nesta declaração um misto de preconceito e desconhecimento da verdadeira função do publicitário, o que torna a afirmação injusta, pois sendo se assim fosse tamanha preocupação com regulamentações por parte da sociedade para os profissionais da categoria.
Como em quaisquer outras categorias, na publicidade existem profissionais éticos e não éticos. Mais especificamente: “existem dois tipos de publicitários”. Os sem aspas, como a grande maioria, são os que escolheram a profissão por talento e vocação. Entraram pela porta da frente. Os que são motivados pelo respeito, dedicação e amor. Eles têm o desejo de servir e de construir uma reputação no mercado. Já os com aspas são diferentes. Entraram pela porta dos fundos sorrateiramente pra ninguém perceber. Vale-se de alguns círculos poderosos do relacionamento para exercer mal sua influência (...) O negócio é levantar uma grana. É fazer caixa dois (...) São eles, esses publicitários com aspas, que em épocas de terremoto (...) aparecem pra macular nossa imagem. Nós que não temos tempo de tramar no sótão porque estamos trabalhando honestamente.” (CURY, 2006). Sendo assim, não é correto generalizar nas criticas ao profissional da publicidade, assim como não seria correto se nós, publicitário denominássemos a todos os jornalistas de mentirosos, ‘vendidos’, por conta de um ou dois mais, digamos assim, ‘tendenciosos’, por valerem-se em seus textos de mentiras ou meias verdades.
O que há sim, nos tempos atuais é uma maior preocupação com a veracidade da informação transmitida aos cidadãos pelos profissionais de publicidade no intuito legitimo vender seus produtos, empresas, e imagens. Isso apesar de grande parte da população ainda ser desinformada, o que impossibilita uma avaliação coerente e muitas vezes resvala em deturpações da mensagem original pretendida pela propaganda. Falta, enfim, uma melhor noção de “consumo responsável”. Não podemos, no entanto, descartar que o papel dos publicitários no significativo estímulo ao consumo, pois somos profissionais cuja função é despertar nas pessoas o desejo de consumir. Porém, a distinção entre bem e mal, eticamente falando, não unicamente na publicidade como em qualquer circunstancia da vida, é algo tão relativo que somente quando há uma associação prejudicial ela é aplicada. E isso levando em consideração o potencial de relevância de quem assim o é submetido e ou acometido por essa ação/ato, no caso aqui da propaganda na publicidade, “imposta ou exposta” pelo profissional.
A política, os governantes e freqüentemente o cidadão comum, contaminado pelo meio, são infratores dessas ditas “condutas de ética”, caminhando de mãos dadas com uma velha desculpa a de que “os fins justificam os meios. É baseado nessa premissa que muitos se utilizam da publicidade para mostrar apenas o que lhes é conveniente, mesmo que isso implique na ampla disseminação de “meias-verdades”. E é claro que os jornalistas como profissionais mais que qualificados que são devem denunciar. A propaganda hoje tanto quanto o jornalismo se tornou um meio, um veículo de prestação de contas para com a sociedade, justamente por conta da pressão exercida pelo jornalismo comprometido com a verdade e transparência para fazer valer os direitos do cidadão, a tão almejada “liberdade de expressão”. É essa liberdade de expressão e de “interpretação” que iguala o profissional do jornalismo e publicidade, se os jornalistas têm uma filosofia cujo objetivo é a verdade, os publicitários tem uma filosofia cujo objetivo é mostrar essa verdade dos mais variados pontos de vista, pois nenhuma verdade é única e absoluta. As nuances têm que ser respeitadas e analisadas.
O publicitário também fala a verdade nua e crua, na realidade, esse profissional é hoje em dia aquele que mais fala a verdade e consegue de maneira sutil ser entendido. A verdade, que pessoas são desonestas e fazem de tudo por qualquer coisa; a verdade que está ali do nosso lado e fingimos não ver; a verdade que o ser humano é egoísta e precisa ser para sobreviver num mundo capitalista que ele mesmo criou.
E em se falando de capitalismo, o mundo desse jornalista profissional tão comprometido e tão praticante dessa verdade não seria o que é hoje sem o tal publicitário que vende com muita maestria sua verdade que por soar tão “in” também está sofrendo os males da “falta de ética”, do mau julgamento.
Concluindo que ser um profissional ético nos tempos de hoje e falando da esmagadora maioria dos publicitários e jornalistas também, é algo extremamente relativo, aja vista só se preocupam com a verdade quando ela lhes é conveniente. Creio que a lógica do mercado geralmente tem mais peso que a "verdade" – da qual nem diria A VERDADE, mas ser honesto para com os argumentos, tentar ver o outro lado. Praticamente todos os veículos de informação estão a serviço de interesses diversos, e se preocupam mais em defender veladamente esses interesses do que em dar a noticia de forma honesta e, na medida do possível, "imparcial". Se todos nós, independentemente da profissão, agíssemos com imparcialidade, já estaríamos no caminha certo da ética.
Nenhum comentário:
Postar um comentário